Introdução
O setor bancário sempre se destacou pela rigidez e pela pressão extrema sobre seus trabalhadores.
Por décadas, as instituições financeiras operaram sob um modelo de metas abusivas, cobrança excessiva de produtividade e gestão baseada no medo.
No entanto, a nova redação da Norma Regulamentadora nº 1 (NR 1) pode expor uma fragilidade estrutural do setor: a falta de uma gestão humanizada e de um verdadeiro compromisso com a saúde dos trabalhadores.
As instituições estão preparadas para se adaptar ou continuarão resistindo a uma mudança inevitável?
NR 1 e a Exposição do Modelo Bancário de Trabalho:
Com a exigência do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), a NR 1 obriga as empresas a documentar e gerenciar os riscos ocupacionais, incluindo os riscos psicossociais.
Isso significa que as práticas abusivas, antes mascaradas como “cultura de alta performance”, agora devem ser identificadas e corrigidas.
Mas, sejamos realistas: quantos bancos vão realmente admitir que seu modelo de gestão adoece os trabalhadores?
O setor bancário sempre encontrou brechas para fugir da responsabilidade, lidando com processos trabalhistas como simples “custos operacionais”.
No entanto, com a nova NR 1, a fiscalização poderá ser mais rigorosa e, sobretudo, mais documentada. Se antes a pressão psicológica ficava no campo das denúncias individuais, agora precisará ser formalmente analisada e mitigada.
A Cultura da Pressão e o Risco de Colapso:
Metas inalcançáveis, cobranças diárias por desempenho e assédio moral corporativo se tornaram práticas comuns no setor bancário.
A prática da “gestão pelo medo” é, na verdade, um grande risco empresarial, pois leva ao adoecimento e à alta rotatividade de profissionais.
Agora, com a obrigatoriedade de documentar riscos psicossociais, os bancos enfrentam um dilema: reformular sua cultura organizacional ou enfrentar sanções cada vez mais severas.
O que antes era tolerado pela falta de regulamentação clara agora se torna um passivo real e documentado.
A nova NR 1 pode representar o início do fim da impunidade para um modelo de gestão que, por décadas, operou sem grandes consequências.
O Que os Bancos Precisam Fazer Para Evitar Penalizações?
As instituições financeiras precisarão ir além dos discursos vazios sobre “bem-estar corporativo” e implementar mudanças reais, como:
- Redefinir metas e métodos de cobrança, garantindo que sejam alcançáveis e saudáveis;
- Capacitar líderes para atuar sem pressão psicológica abusiva;
- Criar canais de denúncia confiáveis, sem medo de retaliação;
- Revisar as práticas de gestão, priorizando um ambiente mais equilibrado e produtivo.
Se os bancos insistirem em manter a pressão excessiva como estratégia de produtividade, o custo não será apenas humano, mas também financeiro.
A nova NR 1 oferece um alerta: a era da impunidade está com os dias contados.
Conclusão:
A fragilidade do setor bancário ficou exposta com a nova redação da NR 1.
A incapacidade de lidar com os riscos psicossociais de maneira efetiva pode transformar o que antes era apenas uma “prática de mercado” em uma fonte constante de passivos trabalhistas e sanções.
O setor precisa urgentemente se reinventar, abandonando a cultura da pressão extrema e investindo em um ambiente de trabalho sustentável.
Caso contrário, as práticas abusivas que antes passavam despercebidas se tornarão provas concretas de um modelo falido.
A grande pergunta é: os bancos estão prontos para essa mudança, ou continuarão tentando driblar as novas regras até que seja tarde demais?
Dr. Valdenir Vanderlei
OAB/RJ 141.527